Blong: FOG

Não pergunte onde está a guerra, ela está em você!

domingo, maio 19, 2013

And yet, here we are...

I guess about this song it could doubtlessly be said: "written by a Leo, about other Leos, for Leos... and the rest of the world, of course! Almost forgot! ;-)"
Those (Leos) who deny their very nature are likely to be doomed to unhappiness, meaninglessness...
(Oops, Fredie Mercury is a Virgo, but who cares, anyway? ;-) )
[[[Edição posterior: errr... Fredie tem Ascendente em Leão. Tudo explicado. Não era óbvio, anyway? ;-)]]]

segunda-feira, agosto 01, 2011

The Lion Awakes - a song by Jimmy Cliff



The lion awakes

A song by Jimmy Cliff
Album: Club Paradise - 1986

(Since this song's lyrics are NOT available online, THESE ARE NOT THE OFFICIAL LYRICS.
I heard the song and wrote what I thought I heard. Specially the 5 first verses are certainly NOT RIGHT, since they are just a phonetical reconstitution. Enjoy! And remember to leave a comment, or sugestion, or corretion!)

Wayou, wayou!
It's all about the s(p)oocky leo (x3)

Manakoo
Reeatre
Caretso amoussy leo (X2)

Wayou, wayou!
Lion awakes again! (x3)

Look out the way!
Get out the way!
Don't you stand up in his way!(x2)

Here in the jungle
The lion ghost arise
There's going to be a rumble
He's got fire in his eyes

Stuck in my sweet babe
And don't you be surprised
Stuck in my sweet thing
He's got fire in his eyes

Wayou, wayou!
Lion awakes again! (x3)

Get out the way!
Look out the way!
Don't you stand up in his way!(x2)

When the lion is sleeping
Never you try to wake him
Cause what you don't know
He's older than you

And who you can fool?
He's wiser and strong
Who you can fool, now?!
He's wiser and true true true so

Wayou, wayou!
It's all about the s(p)oocky leo (x3)

Manakoo
Reeatre
Caretso amoussy leo (X2)

Ah ah eh ah oh oh
Ah ah ah ah eh ah oh oh
Ah ah ah ah eh ah oh oh

Wayou, wayou!
Lion awakes again! (x3)

Get out the way!
Look out the way!
Don't you stand up in his way!(x2)

Manakoo
Reeatre
Caretso amoussy leo (X2)

***

This excerpts mencioning

I also based on these sources: mythmara's post and Kwani, by mr. Wainana.

Special thanks to mr. João André.

*

domingo, agosto 22, 2010

"The Last Airbender"

Não sei é só pira (de piro) minha, mas como têm havido filmes com "grandes cenas de batalha", hein? Multidões de soldados de um lado e de outro, prontos para lutar até a morte, eventualmente defendendo sua capital city.

Teóricos da conspiração veriam coisas nisso... não que não haja.

Os mesmos piramaníacos haveriam de encantar-se com as subdivisões do filme. A tribo da Ar ser formada por caucasianos e negros, a da Água por caucasianos e esquimós(?) (mongóis?), a da Terra por amarelos e a do Fogo... quem é o inimigo? As feições árabes (embora me pareça que são indianos). Enfim, isso é só uma descrição de uma pira que nem é minha, é hipotética de hipatetas... ou não (será?).

Agora, quase falando do filme, tenho de assumir uma de minhas muitas facetas pouco nobres ao status quo e confessar que sou grande fã do desenho. "Avatar", digo. Minha única crítica à série como um todo é que as personagens aprendem tudo do dia pra noite. Literalmente tornam-se mestres em apenas algumas horas de "total dedicação". Seguindo aquela máxima tola de que "se você tentar com afinco verdadeiro, consegue"... ou não seria tão tola?

Anyway, o filme... Gostei muito. Nem imaginava como o diretor conseguiria fazer, mas me pareceu que ele foi mesmo muito competente... E a turma (críticos) que "bombardeou" o filme provavelmente nem é criança (huh?), nem fã do seriado... queria ver um filme do nível de Sexto Sentido e aí dão de cara com um filme infantil - e não no mal sentido. Achei até bem fiel ao desenho.

É verdade que as lutas são meio lentas e esperava um pouquinho mais dos efeitos especiais de "dominação"... Mas, afinal, são crianças... oras!

Anyway, bom filme e espero que não seja o "Last" e que a trilogia se complete...

quarta-feira, outubro 21, 2009

Ultimatum!

Há alguns anos eu publiquei este texto na Komuna, quando ela era no MSN.

O fato é que ainda não há (não encontrei) online a versão integral.
Edição: Encontrei ele apenas recentemente em versão integral, mas sem formatação: http://multipessoa.net/labirinto/obra-publica/10

Tentei manter tudo muito parecido com o original, inclusive as fontes, paragrafização, alinhamentos etc.

Aproveitando que o Quotaction falou Merda, também, e esperando (de esperança, não de esperar) não acordar o Geldon, também porque alguém na Comunidade do Orkut lembrou do Ultimatum, onlinho-a, novamente:

Ultimatum, de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), texto integral (essa linha é pro Google):



ULTIMATUM


de Álvaro de Campos


Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fora.

Fora tu, Anatole-France, Epicuro de farmacopeia-homeopática, ténia-Jaurès do Ancien-Régime, salada de Renan-Flaubert em louça do século dezassete, falsificada!

Fora tu, Maurice-Barrès, feminista da Acção, Chateaubriand de paredes nuas, alcoviteiro de palco da pátria de cartaz, bolor da Lorena, algibebe dos mortos dos outros, vestindo do seu comércio!

Fora tu, Bourget das almas, lamparineiro das partículas alheias, psicólogo de tampa de brasão, reles snob plebeu, sublinhando a régua de lascas os mandamentos da lei da Igreja!

Fora tu, mercadoria Kipling, homem-prático do verso, imperialista das sucatas, épico para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da baixa imortalidade!

Fora! Fora!

Fora tu, George-Bernard-Shaw, vegetariano do paradoxo, charlatão da sinceridade, tumor frio do ibsenismo, arranjista da intelectualidade inesperada, Kilkenny-Cat de ti próprio, Irish-Melody calvinista com letra da Origem-das-Espécies!

Fora tu, H. G. Wells, ideativo de gesso, saca-rolhas de papelão para a garrafa da Complexidade!

Fora tu, G. K. Chesterton, cristianismo para uso de prestidigitadores, barril de cerveja ao pé do altar, adiposidade da dialéctica cockney com o horror ao sabão influindo na limpeza dos raciocínios!

Fora tu, Yeats da céltica-bruma à roda de poste sem indicações, saco de podres que veio à praia do naufrágio do simbolismo inglês!

Fora! Fora!

Fora tu, Rapagnetta-Annunzio, banalidade em caracteres gregos, «D. Juan em Pathmos» (solo de trombone)!

E tu, Maeterlinck, fogão do Mistério apagado!

E tu Loti, sopa salgada fria!

E finalmente tu, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!

Fora! Fora! Fora!

E se houver outros que faltem, procurem-nos por aí pra um canto!

Tirem isso tudo da minha frente!

Fora com isso tudo! Fora!


*


Ai! que fazes tu na celebridade, Guilherme-Segundo da Alemanha, canhoto maneta do braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume?!

Quem és tu, tu da juba socialista, David-Lloyd-George, bobo de barrete frígio feito de Union Jacks?!

E tu, Venizelos, fatia de Péricles com manteiga, caída no chão de manteiga para baixo?

E tu, qualquer outro, todos os outros, açorda Briand-Dato. Boselli da incompetência ante os factos todos os estadistas pão-de-guerra que datam de muito antes da guerra! Todos! todos! todos! Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem intelectual!

E todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados para baixo à porta da Insuficiência da Época!

Tirem isso tudo da minha frente!

Arranjem feixes de palha e ponham-nos a fingir gente que seja outra!

Tudo daqui para fora! Tudo daqui para fora!

Ultimatum a eles todos, e a todos os outros que sejam como eles todos!

Senão querem sair, fiquem e lavem-se!


*


Falência geral de tudo por causa de todos!

Falência geral de todos por causa de tudo!

Falência dos povos e dos destinos — falência total!

Desfile das nações para o meu Desprezo!

Tu, ambição italiana, cão de colo chamado César!

Tu, «esforço francês», galo depenado com a pele pintada de penas! (Não lhe dêem muita corda senão parte-se!)

Tu, organização britânica, com Kitchener no fundo do mar mesmo desde o princípio da guerra!

(It 's a long, long way to Tipperary and a jolly sight longer way to Berlin!)

Tu, cultura alemã, Esparta podre com azeite de cristismo e vinagre de nietzschização, colmeia de lata, transbordamento imperialóide de servilismo engatado!

Tu, Áustria-súbdita, mistura de sub-raças, batente de porta tipo K!

Tu, Von Bélgica, heróica à força, limpa a mão à parede que foste!

Tu, escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desoprimida porque se partiu!

Tu, «imperialismo» espanhol, salero em política, com toureiros de sambenito nas almas ao voltar da esquina e qualidades guerreiras enterradas em Marrocos!

Tu, Estados Unidos da América, síntese-bastardia da baixa-Europa, alho da açorda transatlântica nasal do modernismo inestético!

E tu, Portugal-centavos, resto da Monarquia a apodrecer República, extrema-unção-enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na guerra com vergonhas naturais em África!

E tu, Brasil, «república irmã», blague de Pedro-Álvares-Cabral, que nem te queria descobrir!

Ponham-me um pano por cima de tudo isso!

Fechem-me isso à chave e deitem a chave fora!

Onde estão os antigos, as forças, os homens, os guias, os guardas?

Vão aos cemitérios, que hoje são só nomes nas lápides!

Agora a filosofia é o ter morrido Fouillée!

Agora a arte é o ter ficado Rodin!

Agora a literatura é Barrès significar!

Agora a crítica é haver bestas que não chamam besta ao Bourget!

Agora a política é a degeneração gordurosa da organização da incompetência!

Agora a religião é o catolicismo militante dos taberneiros da fé, o entusiasmo cozinha-francesa dos Maurras de razão-descascada, é a espectaculite dos pragmatistas cristãos, dos intuicionistas católicos, dos ritualistas nirvânicos, angariadores de anúncios para Deus!

Agora é a guerra, jogo do empurra do lado de cá e jogo de porta do lado de lá!

Sufoco de ter só isto à minha volta!

Deixem-me respirar!

Abram todas as janelas!

Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo!


*


Nenhuma idéia grande, ou noção completa ou ambição imperial de imperador-nato! Nenhuma, idéia de uma estrutura, nenhum senso de Edifício, nenhuma ânsia do Orgânico-Creado!

Nem um pequeno Pitt, nem um Goethe de cartão, nem um Napoleão de Nürnberg!

Nem uma corrente literária que seja sequer a sombra do romantismo ao meio-dia!

Nem um impulso militar que tenha sequer o vago cheiro de um Austerlitz!

Nem uma corrente política que soe a uma idéia-grão, chacoalhando-a, ó Caios Gracos de tamborilar na vidraça!

Época vil dos secundários, dos aproximados, dos aproximados, dos lacaios com aspirações de lacaios a reis-lacaios!

Lacaios que não sabeis ter a Aspiração, burgueses do desejo, transviados do balcão instintivo! Sim, todos vós que representais a Europa, todos vós que sois políticos em evidência em todo o mundo, que sois literatos meneurs de correntes européias, que sois qualquer cousa a qualquer cousa neste maelström de chá morno!


*

Homens-altos de Liliput-Europa, passai por baixo do meu desprezo!

Passai vós, ambiciosos do luxo quotidiano, anseios de costureiras dos dois sexos, vós cujo tipo é o plebeu Annunzio, aristocrata de tanga de ouro!

Passai vós, que sois autores de correntes sociais, de correntes literárias, de correntes artísticas, verso da medalha da impotência de criar!

Passai, frouxos que tendes a necessidade de serdes istas de qualquer ismo!

Passai, radicais do Pouco, incultos do Avanço, que tendes a ignorância por coluna da audácia, que tendes a impotência por esteio das neoteorias!

Passai, gigantes do formigueiro, ébrios da vossa personalidade de filhos de burguês, com a mania da grande-vida roubada na dispensa paterna e a hereditariedade indesentranhada dos nervos!

Passai, mistos; passai, débeis que só cantais a debilidade; passai, ultradébeis que cantais só a força, burgueses pasmados ante o atleta de feira que quereis criar na vossa indecisão febril!

Passai, esterco epileptóide sem grandezas, histeria-lixo dos espetáculos, senilidade social do conceito individual de juventude!

Passai, bolor do Novo, mercadoria em mau estado desde o cérebro de origem!

Passai à esquerda do meu Desdém virado à direita, criadores de «sistemas filosóficos», Boutroux, Bergsons, Euckens, hospitais para religiosos incuráveis, pragmatistas do jornalismo metafísico, lazzaroni da construção meditada!

Passai e não volteis, burgueses da Europa-Total, párias da ambição de parecer-grandes, provincianos de Paris!

Passai, decigramas da Ambição, grandes só numa época que conta a grandeza por centimiligramas!

Passai, provisórios, cotidianos, artistas e políticos estilo lightninglunch, servos empoleirados da Hora, trinitários da Ocasião!

Passai, «finas sensibilidades» pela falta de espinha dorsal; passai, construtores de café e conferência, monte de tijolos com pretensões a casa!

Passai, cerebrais dos arrabaldes, intensos de esquina-de-rua!

Inútil luxo, passai, vã grandeza ao alcance de todos, megalomania triunfante do aldeão de Europa-aldeia! Vós que confundis o humano com o popular, e o aristocrático com o fidalgo! Vós que confundis tudo, que, quando não pensais em nada, dizeis sempre outra cousa! Chocalhos, incompletos, maravalhas, passai!

Passai, pretendentes a reis parciais, lordes de serradura, senhores feudais do Castelo de Papelão!

Passai, romantismo póstumo dos liberalões de toda a parte, classicismo em álcool dos fetos de Racine, dinamismo dos Whitmans de degrau de porta, dos pedintes da inspiração forçada, cabeças ocas que fazem barulho porque vão bater com elas nas paredes!

Passai, cultores do hipnotismo em casa, dominadores da vizinha do lado, caserneiros da Disciplina que não custa nem cria!

Passai, tradicionalistas autoconvencidos, anarquistas deveras sinceros, socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores para quererem deixar de trabalhar! Rotineiros da revolução, passai!

Passai eugenistas, organizadores de uma vida de lata, prussianos da biologia aplicada, neomendelianos da incompreensão sociológica!

Passai, vegetarianos, teetotalers, calvinistas dos outros, kill-joys do imperialismo de sobejo!

Passai, amanuenses do «vivre sa vie» de botequim extremamente de esquina, ibsenóides Bernstein-Bataille do homem forte de sala de palco!

Tango de pretos, fosses tu ao menos minuete!

Passai, absolutamente, passai!


*


Vem tu finalmente ao meu Asco, roça-te tu finalmente contra as solas do meu Desdém, grand finale dos parvos, conflagração-escárnio, fogo em pequeno monte de estrume, síntese dinâmica do estatismo ingênito da Época!

Roça-te tu e roja-te, impotência a fazer barulho!

Roça-te, canhões declamando a incapacidade de mais ambição que balas, de mais inteligência que bombas!

Que esta é a equação – lama da infâmia do cosmopolitismo de tiros:


Von Bissing = Jonnart

Bélgica Grécia


Proclamem bem alto que ninguém combate pela Liberdade ou pelo Direito! Todos combatem por medo dos outros! Não tem mais metros que estes milímetros a estatura das suas direções!

Lixo guerreiro-palavroso! Esterco Joffre-Hindenburguesco! Sentina européia de Os Mesmos em cisão balofa!

Quem acredita neles?

Quem acredita nos outros?

Façam a barba aos poilus!

Descasquetem o rebanho inteiro!

Mandem isso tudo pra casa descascar batatas simbólicas!

Lavem essa cela de mixórdia inconsciente!

Atrelem uma locomotiva a essa guerra!

Ponham uma coleira a isso e vão exibi-lo para a Austrália!


*


Homens, nações, intuitos, está tudo nulo!

Falência de tudo por causa de todos!

Falência de todos por causa de tudo!

De um modo completo, de um modo total, de um modo integral:


Merda!


A Europa tem sede que se crie, tem fome de Futuro!

A Europa quer grandes Poetas, quer grandes Estadistas, quer grandes Generais!

Quer o político que construa conscientemente os destinos inconscientes do seu Povo!

Quer o poeta que busque a Imortalidade ardentemente, e não se importe com a fama, que é para as actrizes e para os produtos farmacêuticos!

Quer o general que combata pelo Triunfo Construtivo, não pela vitória em que apenas se derrotam os outros!

A Europa quer muito desses políticos, muitos desses Poetas, muitos desses Generais!

A Europa quer a Grande Ideia que esteja por dentro destes Homens Fortes - a ideia que seja o Nome da sua riqueza anónima!

A Europa quer a Inteligência Nova que seja a Forma da sua Matéria caótica!

Quer a Vontade Nova que faça um Edifício com as pedras-ao-acaso do que é hoje a Vida!

Quer a Sensibilidade Nova que reúna de dentro os egoísmos dos lacaios da Hora!

A Europa quer Donos! O Mundo quer a Europa!

A Europa está farta de não existir ainda! Está farta de ser apenas o arrabalde de si-própria! A Era das Máquinas procura, tacteando, a vinda da Grande Humanidade!

A Europa anseia, ao menos, por Teóricos de O-que-será, por Cantores-Videntes do seu Futuro!

Dai Homeros à Era das Máquinas, ó Destinos científicos! Dai Miltons à Época das Cousas Eléctricas, ó Deuses interiores à Matéria!

Dai-nos Possuidores de si-próprios, Fortes, Completos, Harmónicos, Subtis!

A Europa quer passar de designação geográfica a pessoa civilizada!

O que aí está a apodrecer a Vida, quando muito é estrume para o Futuro!

O que aí está não pode durar, porque não é nada!

Eu, da Raça dos Navegadores, afirmo que não pode durar!

Eu, da Raça dos Descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir um Novo Mundo!

Quem há na Europa que ao menos suspeite de que lado fica o Novo Mundo agora a descobrir? Quem sabe estar em um Sagres qualquer?

Eu, ao menos, sou uma grande Ânsia do tamanho exacto do Possível!

Eu, ao menos, sou da estatura da Ambição Imperfeita, mas da Ambição para Senhores, não para escravos!

Ergo-me ante o sol que desce, e a sombra do meu Desprezo anoitece em vós!

Eu, ao menos, sou bastante para indicar o Caminho!

Vou indicar o Caminho!

ATENÇÃO!


Proclamo em primeiro lugar,


A LEI DE MALTHUS DA SENSIBILIDADE


Os estímulos da sensibilidade aumentam em progressão geométrica; a própria sensibilidade apenas em progressão aritmética.


Compreende-se a importância desta lei. A sensibilidade – tomada aqui no mais amplo dos seus sentidos possíveis – é a fonte de toda a criação civilizada. Mas essa criação só pode dar-se completamente quando essa sensibilidade esteja adaptada ao meio em que funciona; na proporção da adaptação da sensibilidade ao meio está a grandeza e a força da obra resultante.

Ora a sensibilidade, embora varie um pouco pela influência insistente do meio actual, é, nas suas linhas gerais, constante, e determinada no mesmo indivíduo desde a sua nascença, função do temperamento que a hereditariedade lhe infixou. A sensibilidade portanto progride por gerações.

As criações da civilização, que constituem o «meio» da sensibilidade, são a cultura, o progresso científico, a alteração nas condições políticas (dando à expressão um sentido completo); ora estes – e sobretudo o progresso cultural e científico, uma vez começado – progridem não por obra de gerações, mas pela interacção e sobreposição da obra de indivíduos e, embora lentamente a princípio, breve progridem ao ponto de tomarem proporções em que, de geração a geração, centenas de alterações se dão nestes novos estímulos da sensibilidade, ao passo que a sensibilidade deu, ao mesmo tempo, só um avanço, que é o de uma geração, porque o pai não transmite ao filho senão uma pequena parte das qualidades adquiridas.

Temos, pois, que a uma certa altura da civilização há-de haver uma desadaptação da sensibilidade ao meio, que consiste dos seus estímulos – uma falência portanto. Dá-se isso na nossa época, cuja incapacidade de criar grandes valores deriva dessa desadaptação.

A desadaptação não foi grande no primeiro período da nossa civilização, da Renascença ao século XVIII, em que os estímulos da sensibilidade eram sobretudo de ordem cultural, porque esses estímulos, por sua própria natureza, eram de progresso lento, e atingiam a princípio apenas as camadas superiores da sociedade. Acentuou-se a desadaptação no segundo período, que parte da Revolução para o século XIX, e em que os estímulos são já sobretudo políticos, onde a progressão é facilmente maior e o alcance do estímulo muito mais vasto. Cresceu a desadaptação vertiginosamente no período desde meados do século XIX à nossa época, em que o estímulo, sendo as criações da ciência, produz já uma rapidez de desenvolvimento que deixa atrás os progressos da sensibilidade, e, nas aplicações práticas da ciência, atinge toda a sociedade. Assim se chega à enorme desproporção entre o termo presente da progressão geométrica dos estímulos da sensibilidade e o termo correspondente da progressão aritmética da própria sensibilidade.

Daí a desadaptação, a incapacidade criativa da nossa época. Temos, portanto, um dilema: ou morte da civilização ou adaptação, artificial, visto que a natural, a instintiva faliu.

Para que a civilização não morra, proclamo, portanto, em segundo lugar,


A NECESSIDADE DA ADAPTAÇÃO

ARTIFICIAL


O que é a adaptação artificial?

É um acto de cirurgia sociológica. É a transformação violenta da sensibilidade de modo a tornar-se apta a acompanhar, pelo menos por algum tempo, a progressão dos seus estímulos.

A sensibilidade chegou a um estado mórbido, porque se desadaptou. Não há que pensar em curá-la. Não há curas sociais. Há que pensar em operá-la para que ela possa continuar a viver. Isto é, temos que substituir a morbidez natural da desadaptação pela sanidade artificial feita pela intervenção cirúrgica, embora envolva uma mutilação.

O que é que é preciso eliminar do psiquismo contemporâneo?

Evidentemente que é aquilo que seja a aquisição fixa mais recente no espírito – isto é, aquela aquisição geral do espírito humano civilizado que seja anterior ao estabelecimento da nossa civilização, mas recentemente anterior; e por três razões:

a) porque, por ser a mais recente das fixações psíquicas, é a menos difícil de eliminar;

b) porque, visto que cada civilização se forma por uma reacção contra a anterior, são os princípios da anterior que são os mais antagónicos à actual e que mais impedem a sua adaptação às condições especiais que durante esta apareçam;

c) porque, sendo a aquisição fixa mais recente, a sua eliminação não ferirá tão funda a sensibilidade geral como o faria a eliminação, ou a pretensão de eliminar, qualquer fundo depósito psíquico.

Qual é a última aquisição fixa do espírito humano geral?

Deve ser composta de dogmas do cristianismo, porque a Idade Média, vigência plena daquele sistema religioso, precede, imediatamente e duradouramente, a eclosão da nossa civilização, e os princípios cristãos são contraditados pelos firmes ensinamentos da ciência moderna.

A adaptação artificial será portanto espontaneamente feita desde que se faça uma eliminação das aquisições fixas do espírito humano, que derivam da sua emergência no cristianismo.

Proclamo, por isso, em terceiro lugar,

A INTERVENÇÃO CIRÚRGICA

ANTICRISTÃ


Resolve-se ela, como é de ver, na eliminação dos três preconceitos, dogmas, ou atitudes, que o cristianismo fez que se infiltrassem na própria substância da psique humana.

Explicação correcta:


1. – ABOLIÇÃO DO DOGMA DA PERSONALIDADE – isto é, de que temos uma Personalidade «separada» das dos outros. É uma ficção teológica. A personalidade de cada um de nós é completa (como o sabe a psicologia moderna, sobretudo desde a maior atenção dada à sociologia) do cruzamento social com as «personalidades» dos outros, da imersão em correntes e direcções sociais e da fixação de vincos hereditários, oriundos, em grande parte, de fenómenos de ordem colectiva. Isto é, no presente, no futuro, e no passado, somos parte dos outros, e eles parte de nós. Para o auto-sentimento cristão, o homem mais perfeito é o que com mais verdade possa dizer «eu sou eu»; para a ciência, o homem mais perfeito é o que com mais justiça possa dizer «eu sou todos os sonhos».

Devemos pois operar a alma, de modo a abri-la à consciência da sua interpenetração com as almas alheias, obtendo assim uma aproximação concretizada do Homem-Completo, Homem-Síntese da Humanidade.


Resultados desta operação:


a) Em política: Abolição total do conceito de democracia, conforme a Revolução Francesa, pelo qual dois homens correm mais que um homem só, o que é falso, porque um homem que vale por dois é que corre mais que um homem só! Um mais um não são mais do que um enquanto um e um não formam aquele Um a que se chama Dois. Substituição, portanto à Democracia, da Ditadura do Completo, do Homem que seja, portanto, A Maioria. Encontra-se assim o Grande Sentido da Democracia, contrário em absoluto ao da actual que aliás nunca existiu.

b) Em arte: Abolição total do conceito de que cada indivíduo tem o direito ou o dever de exprimir o que sente. Só tem o direito ou o dever de exprimir o que sente, em arte, o indivíduo que sente por vários. Não confundir com «a expressão da Época», que é buscada pelos indivíduos que nem sabem sentir por si próprios. O que é preciso é o artista que sinta por um certo número de Outros, todos diferentes uns dos outros, uns do passado, outros do presente, outros do futuro. O artista cuja arte seja uma Síntese-Soma, e não uma Síntese-Subtracção dos outros de si, como a arte dos actuais.

c) Em filosofia: Abolição do conceito de verdade absoluta. Criação da Super-Filosofia. O filósofo passará a ser o interpretador de subjectivites entrecruzadas, sendo o maior filósofo o que maior número de filosofias espontâneas alheias concentrar. Como tudo é subjectivo, cada opinião é verdadeira para cada homem: a maior verdade será a Soma-síntese-interior do maior número destas opiniões verdadeiras que se contradizem umas às outras.

2. – ABOLIÇÃO DO PRECONCEITO DA INDIVIDUALIDADE. – É outra ficção teológica – a de que a alma de cada um é una e indivisível. A ciência ensina, ao contrário, que cada um do nós é um agrupamento de psiquismos subsidiários uma síntese malfeita de almas celulares. Para o auto-sentimento cristão, o homem mais perfeito é o mais coerente consigo próprio; para o homem de ciência, o mais perfeito é o mais incoerente consigo próprio.


Resultados:


a) Em política: A abolição de toda a convicção que dure mais que um estado de espírito, o desaparecimento total de toda a fixidez de opiniões e de modos-de-ver; desaparecimento portanto de todas as instituições que se apoiem no facto de qualquer «opinião pública» poder durar mais de meia hora A solução de um problema num dado momento histórico será feita pela coordenação ditatorial (vide parágrafo anterior) dos impulsos do momento dos componentes humanos desse problema, que é uma coisa puramente subjectiva, é claro. A abolição total do passado e do futuro como elementos com que se conte, ou em que se pense, nas soluções políticas. Quebra inteira de todas as continuidades.

b) Em arte: A abolição do dogma da individualidade artística O maior artista será o que menos se definir, e o que escrever em mais géneros com mais contradições e dissemelhanças. Nenhum artista deverá ter só uma personalidade. Deverá ter várias, organizando cada uma por reunião concretizada de estados de alma semelhantes, dissipando assim a ficção grosseira de que é uno e indivisível.

c) Em filosofia: Abolição total da Verdade como conceito filosófico, mesmo relativo ou subjectivo. Redução da filosofia à arte de ter teorias interessantes sobre o «Universo». O maior filósofo é aquele artista do pensamento, ou antes da «arte abstracta» (nome futuro da filosofia) que mais teorias coordenadas, não relacionadas entre si, tiver sobre a «Existência».



3. – ABOLIÇÃO DO DOGMA DO OBJECTIVISMO PESSOAL. – A objectividade é uma média grosseira entre as subjectividades parciais. Se uma sociedade for completa, por exemplo, de cinco homens, a, b, c, d e e, a «verdade» ou «objectividade» para essa sociedade será representada por:


a+b+c+d+e

5


No futuro cada indivíduo deve tender para realizar em si esta média. Tendência, portanto, de cada indivíduo, ou pelo menos de cada indivíduo superior, a ser uma harmonia entre as subjectividades alheias (das quais a própria faz parte), para assim se aproximar o mais possível daquela Verdade-Infinito, para a qual idealmente tende a série numérica das verdades parciais.


Resultado:


a) Em política: O domínio apenas do indivíduo ou dos indivíduos que sejam os mais hábeis Realizadores de Médias, desaparecendo por completo o conceito de que a qualquer indivíduo é lícito ter opiniões sobre a política (como sobre qualquer outra coisa) pois que só pode ter opiniões o que for Média.

b) Em arte: Abolição do conceito de Expressão, substituído por o de Entre-Expressão. Só o que tiver a consciência plena de estar exprimindo as opiniões de pessoa nenhuma (o que for Média portanto) pode ter alcance.

c) Em filosofia: Substituição do conceito de Filosofia por o de Ciência, visto a Ciência ser a Média concreta entre as opiniões filosóficas, verificando-se ser média pelo seu «carácter objectivo», isto é, pela sua adaptação ao «universo exterior», que é a Média das subjectividades. Desaparecimento portanto da Filosofia em proveito da ciência.


Resultados finais, sintéticos:


a) Em política: Monarquia Científica, antitradicionalista e anti-hereditária, absolutamente espontânea pelo aparecimento sempre previsto do Rei-Média. Relegação do Povo ao seu papel cientificamente natural de mero fixador dos impulsos de momento.

b) Em arte: Substituição da expressão de uma época por trinta ou quarenta poetas, por a sua expressão por (por exemplo), dois poetas cada um com quinze ou vinte personalidades, cada uma das quais seja uma Média entre correntes sociais do momento.

c) Em filosofia: Integração da filosofia na arte e na ciência; desaparecimento, portanto, da filosofia como metafísica-ciência. Desaparecimento de todas as formas do sentimento religioso (desde o cristianismo ao humanitarismo revolucionário), por não representarem uma Média.

Mas qual o Método, o feitio da operação colectiva que há-de organizar, nos homens do futuro, esses resultados?

Qual o Método operatório inicial?

O Método sabe-o só a geração por quem grito, por quem o cio da Europa se roça contra as paredes!

Se eu soubesse o Método, seria eu-próprio toda essa geração!

Mas eu só vejo o Caminho; não sei onde ele vai ter.

Em todo caso proclamo a necessidade da vinda da Humanidade dos Engenheiros!

Faço mais: garanto absolutamente a vinda da Humanidade dos Engenheiro!

Proclamo, para um futuro próximo, a criação científica dos Super-homens!

Proclamo a vinda de uma Humanidade matemática e perfeita!

Proclamo a sua Vinda em altos gritos!

Proclamo a sua Obra em altos gritos!

Proclamo-A, sem mais nada, em altos gritos!

E proclamo também: Primeiro:


O SUPER-HOMEM SERÁ,

NÃO O MAIS FORTE,

MAS O MAIS COMPLETO!


E proclamo também: Segundo:


O SUPER-HOMEM SERÁ,

NÃO O MAIS PURO,

MAS O MAIS COMPLEXO!


E proclamo também: Terceiro:


O SUPER-HOMEM SERÁ,

NÃO O MAIS LIVRE,

MAS O MAIS HARMÓNICO!


Proclamo isto bem alto e bem no auge, na barra do Tejo, de costas para a Europa, braços erguidos, fitando o Atlântico e saudando abstractamente o Infinito!


ÁLVARO DE CAMPOS


Fim de «Idéias Estéticas»


(Pessoa, Fernando. Obras em prosa.

Rio de Janeiro, Aguilar, 1974).

domingo, setembro 13, 2009

Como tornar-se doente mental - 2

Coloco mais trechos.

Aliás, não sei como pude esquecer, foram os que me motivaram a publicar:

Ainda no capítulo "Como não tornar-se doente mental":

"Todos os animais estão sujeitos a regras mais ou menos ditadas por seus genes e pelos nichos ecológicos. Os homens também formam comunidades regulamentadas por regras. Em grande escala, são regras comunitárias, mais do que os genes, que regem nosso comportamento. Porém, existem aqui vários problemas. O primeiro é saber quais são essas regras, e quem as dita. Geralmente são as instituições que o fazem. As grandes religiões são as mais antigas e talvez as mais sábias nesse domínio. Mas contam, geralmente, com a cooperação (ou competição) das instituições político-administrativas, profissionais, familiares, etc. Cada um de nós pode pertencer a várias comunidades e, às vezes ter de optar entre sistemas de regras em conflito. O fato é que a definição de regras é um jogo de poder, e cada um acaba por ser apanhado nos jogos de poder social. O que vale é que temos, geralmente, capacidade de crítica e de escolha. No entanto, não podemos sair fora do campo do jogo. É por isso que, se aparecer alguém propondo-lhe regras científicas de comportamento saudável, desconfie: será, provavelmente, mais um disfarce das retóricas sociais do poder."

"[...] Do mesmo modo, pode ouvir todos os conselhos dos outros, mas desconfie de quem lhe dê idéias claras sobre como viver melhor. Essa pessoa estará provavelmente impondo-lhe seu estilo de vida ou, pelo menos, vendendo seu peixe. [...]"

Nota minha: "coma pescado que pescado faz bem!"

"[...] No entanto, também é livre para não respeitá-las. Se conseguir impor-se, pode ganhar o estatuto de 'bizarro' ou 'original', dependendo do preconceito que os outros tenham em relação a você. Se for um original, você pode ser a fonte de novas regras"

Mais, realmente ótima a última frase:

"Outro sinal dos novos tempos é ter-se dado maior importância aos sentimentos do que ao raciocínio. Compreendo perfeitamente essa tendência, depois dos excessos de toda uma época de racionalismo. De fato, sabemos hoje que uma pessoa puramente racional e lógica poderia ser substituída por um computador. Mas cair-se no extremo oposto, em que tudo se justifica pelos sentimentos, tantas vezes em nome de apressadas descobertas científicas, merece muitas objeções.

"Em primeiro lugar, quando falamos de sentimentos, raramente sabemos do que estamos falando e, por isso, este é o maior campo de mal-entendidos que podemos encontrar. Emoções, humores, afetos, paixões, impulsos, são coisas provavelmente diferentes, mas que em geral misturamos em nossa omelete sentimental. Quando fazemos alguma coisa completamente tola, nós a justificamos pelos sentimentos que não conseguimos controlar. Os outros, ao ver as consequencias desastrosas daquilo que fizemos, dizem que cedemos aos nossos impulsos. Em que é que ficamos?

"Por outro lado, a idéia de que não podemos controlar nossos sentimentos, afetos e emoções, é um mito. A sociedade consumista atual, com o posto avançado das televisões privadas, é uma perfeita máquina de manipular emoções. [...]"

"Na verdade, ao contrário do que nos sugere essa moda, todos os estudos apontam para o fato de que a principal condição para as maiores carreiras de insanidade mental é a incapacidade de adiar recompensas. Sob a pressão emocional, corremos o risco de passar a vida fazendo asneiras impensadas. Se as pessoas se habituam a fazer aquilo que lhes apetece, já não conseguem fazer o que querem. [...]"

Mais, excepcional:

"Muita gente ambiciona que que o espetáculo de suas vidas seja transmitido pelos meios de comunicação em massa, talvez porque assim possa fazê-lo chegar a suas platéias ocultas. No entanto, a sociedade midiática e comunicacional está colocando imensos problemas às pessoas. Transparência é a nova palavra de ordem, e nada tenho contra isso. Mas quem tem o poder, sobretudo o Estado e as empresas privadas, sabe bem que o "segredo é a alma do negócio"; eu diria que é a fonte do poder. Vai daí, defendem a ferro e fogo seus segredos: segredo de Estado, sigilo bancário, segredo judicial, segredo médico, nunca vimos tanta defesa de segredos institucionais, quando o espaço público e institucional deveria ser o mais transparente. Quanto ao segredo das pessoas, em particular de sua mais íntima privacidade, nunca vimos tantas violações e tão pouca defesa contra elas. [...]"

"Se o leitor não sabe defender seus segredos e quer um conselho secreto, ele está aí: não vá nessa onda de 'transparência'. [...] Se o leitor, por exemplo, entregar seus segredos s outras pessoas e não receber os dela em troca, fica nas mãos dela. [...] Mas, na relação entre adultos, espero que isso não aconteça: os segredos devem ser compartilhados para o poder ficar equilibrado. [...]"

Na verdade, coloquei esse último parágrafo mais pra destacar a relação entre "segredo" e "poder". Quem entendeu, entendeu e sabe que dá-se voltas e voltas e chega-se novamente na filosofia oculta.

Enfim, leiam o livro, que eu não citei o final e a conclusão. Vale muito a pena e é uma leitura fácil e rápida, padrão best-seller que é, com merecimento.

sábado, setembro 12, 2009

Como tornar-se um doente mental


ABREU, J. L. Pio. Como tornar-se doente mental. São Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2008.



Vale a pena desprezar o nome da editora. ("Quem tem de alardear aos 4 ventos que é alguma coisa, provavelmente não é")



Mesmo assim, esse livro vale a pena o risco.



Li-o tentando evitar a atual mania de sublinhar tudo, sem a bengala de ler com um lápis ou caneta.



Um erro.



Leia leia o livro. Vale a pena pra verificar a distancia entre o DSM-IV e os testes da revista Capricho e o quanto seu psiquiatra realmente sabe, ou não.

Abaixo, links que levam a artigos com teor similar ou igual ao do livro:

3 - "Como tornar-se obsessivo-compulsivo" (aquele do TOC)
4 - "Como tornar-se histriônico" (aquela da histeria)

http://www.saude-mental.net/pdf/vol2_rev6_controversias.pdf

5 - "Como tornar-se maníaco-depressivo" (""""Mr. Jones"""")

http://www.saude-mental.net/pdf/vol3_rev1_controversias.pdf

Ainda, abaixo, os trechos que eu sublinhei (depois que eu consegui um lápis):

Sobre "Psicopatas":

"O certo é que nunca pensou em si como pessoa, nem sabe bem se existe ou não. Quem nunca estabeleceu vínculos com outros, também não se reconhece como projeto futuro. Apenas o gozo imediato; o resto, vê-se depois. Voltou ao estado primitivo, e pode sempre argumentar que a vida é uma selva. Talvez sobreviva."

Sobre "Como tornar-se um maníaco-depressivo":

"A psicose maníaco-depressiva (que agora tem o estúpido nome de 'doença bipolar') não é só a doença dos gênios: é também a doença que confere a genialidade criativa. Mas desiluda-se o leitor. Para chegar lá, precisa pertencer a uma família tocada pelo fogo, na feliz expressão de Kay Jamison, ela também é portadora da doença."

Minha nota: daí vem espertomen que dizem que querem ser psicóticos (ou que são) e que aguentam o "tranco". O fato é que, pra cada Napoleão, são 800 maníacos-depressivos falidos e destroçados silenciosos. Pra cada Virgínia Woolf, são 500 drogadidos cujo cérebro virou mingau. Pra cada Hemingway, são mais 3oo (301, então) suicidas, quase todos com a "obra de arte" pela metade, inacabada, na cabeça ou queimada num acesso de raiva. Pra cada Edward Munch, são mais 1000 em tratamento pesado zumbizando, "completamente" "adaptados" (como diria RS).
Pra cada gênio, são 1 milhão de fodidos. Melhor jogar na Mega Sena.
Enfim, se você é um dos "tocados pelo fogo", sabe muito bem que "psicose maníaco-depressiva" é muito bem mais que "alternar estados de humor", muito mais que uma moleta pra justificar tolices ou gafes. Muito mais que ter "alguém" pra jogar a culpa de suas burrices e dormir em paz.
No meu modesto ver, a expressão não é "tocado pelo fogo", tá mais pra algo apavorante como "fire walks with me".
Besides, isso é só um saco onde se coloca um monte de coisas diferentes. O próprio autor do livro usa essa expressão.

Mais um trecho ótimo sobre como tornar-se maníaco-depressivo:

"O momento de deixar os medicamentos é com você. Mas, pelo que conheço dos interessados, a melhor hora é quando se aproximar a época de uma nova mania, talvez antes do outono. Provavelmente você já conhece os sinais de que ela está pra chegar: levanta-se bem cedo com a sensação de que vai vencer o mundo, adora a luz e as cores, sente-se com energia para dar e vender, retoma os velhos projetos, trabalha muito, não consegue parar."

Outro:

"De qualquer modo, as pesquisas sobre a doença tiveram a vantaem de demonstrar que aquilo que comanda nossos ciclos de energia e, portanto, as manias e depressões, são os astros (e sobretudo o astro rei), em relação com a sincronização do ritmo de produção de nossos hormônios. Nada que os antigos (e os astrólogos) não soubessem."

Nota minha: aí dá pra perceber o quanto você deve confiar nos "estudos", "especialistas", "cientistas". Enfim, o livro é ótimo e o conhecimento é estruturado pra nós do jeitinho que nós aprendemos a aprender, mas não dá pra esquecer nunca que.

Ótimo:

"Se você for sempre uma pessoa tristonha, circunspecta e pessimista (realista e lúcida, como dizem alguns),..."

Do Capítulo "Como não ser um doente mental":

"O grande problema do doente mental é fazer sempre a mesma coisa em todas as circuntâncias. É por isso que eles são muito parecidos e podem ser classificados. Pelo contrário, as pessoas saudáveis, por serem tão diferentes umas das outras e fazerem coisas diversas em diversos contextos, são inclassificáveis. Nós somos, em geral, tão diferentes porque, além da variedade genética que cultivamos com a exogamia, temos também a variedade cultural e linguística e, ainda, a consciência, pela qual nós podemos conhecer e modificar. [...] O que mais me alarma nos doentes mentais é a falta de consciência sobre o que se passa com eles (...), o que os leva a perder a liberdade de se modificar: continuam a fazer, em qualquer circunstância, cada vez mais do mesmo."

Talvez eu transcreva mais, mas acho que isso e Clockwork Orange já são de grande ajuda.