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domingo, setembro 13, 2009

Como tornar-se doente mental - 2

Coloco mais trechos.

Aliás, não sei como pude esquecer, foram os que me motivaram a publicar:

Ainda no capítulo "Como não tornar-se doente mental":

"Todos os animais estão sujeitos a regras mais ou menos ditadas por seus genes e pelos nichos ecológicos. Os homens também formam comunidades regulamentadas por regras. Em grande escala, são regras comunitárias, mais do que os genes, que regem nosso comportamento. Porém, existem aqui vários problemas. O primeiro é saber quais são essas regras, e quem as dita. Geralmente são as instituições que o fazem. As grandes religiões são as mais antigas e talvez as mais sábias nesse domínio. Mas contam, geralmente, com a cooperação (ou competição) das instituições político-administrativas, profissionais, familiares, etc. Cada um de nós pode pertencer a várias comunidades e, às vezes ter de optar entre sistemas de regras em conflito. O fato é que a definição de regras é um jogo de poder, e cada um acaba por ser apanhado nos jogos de poder social. O que vale é que temos, geralmente, capacidade de crítica e de escolha. No entanto, não podemos sair fora do campo do jogo. É por isso que, se aparecer alguém propondo-lhe regras científicas de comportamento saudável, desconfie: será, provavelmente, mais um disfarce das retóricas sociais do poder."

"[...] Do mesmo modo, pode ouvir todos os conselhos dos outros, mas desconfie de quem lhe dê idéias claras sobre como viver melhor. Essa pessoa estará provavelmente impondo-lhe seu estilo de vida ou, pelo menos, vendendo seu peixe. [...]"

Nota minha: "coma pescado que pescado faz bem!"

"[...] No entanto, também é livre para não respeitá-las. Se conseguir impor-se, pode ganhar o estatuto de 'bizarro' ou 'original', dependendo do preconceito que os outros tenham em relação a você. Se for um original, você pode ser a fonte de novas regras"

Mais, realmente ótima a última frase:

"Outro sinal dos novos tempos é ter-se dado maior importância aos sentimentos do que ao raciocínio. Compreendo perfeitamente essa tendência, depois dos excessos de toda uma época de racionalismo. De fato, sabemos hoje que uma pessoa puramente racional e lógica poderia ser substituída por um computador. Mas cair-se no extremo oposto, em que tudo se justifica pelos sentimentos, tantas vezes em nome de apressadas descobertas científicas, merece muitas objeções.

"Em primeiro lugar, quando falamos de sentimentos, raramente sabemos do que estamos falando e, por isso, este é o maior campo de mal-entendidos que podemos encontrar. Emoções, humores, afetos, paixões, impulsos, são coisas provavelmente diferentes, mas que em geral misturamos em nossa omelete sentimental. Quando fazemos alguma coisa completamente tola, nós a justificamos pelos sentimentos que não conseguimos controlar. Os outros, ao ver as consequencias desastrosas daquilo que fizemos, dizem que cedemos aos nossos impulsos. Em que é que ficamos?

"Por outro lado, a idéia de que não podemos controlar nossos sentimentos, afetos e emoções, é um mito. A sociedade consumista atual, com o posto avançado das televisões privadas, é uma perfeita máquina de manipular emoções. [...]"

"Na verdade, ao contrário do que nos sugere essa moda, todos os estudos apontam para o fato de que a principal condição para as maiores carreiras de insanidade mental é a incapacidade de adiar recompensas. Sob a pressão emocional, corremos o risco de passar a vida fazendo asneiras impensadas. Se as pessoas se habituam a fazer aquilo que lhes apetece, já não conseguem fazer o que querem. [...]"

Mais, excepcional:

"Muita gente ambiciona que que o espetáculo de suas vidas seja transmitido pelos meios de comunicação em massa, talvez porque assim possa fazê-lo chegar a suas platéias ocultas. No entanto, a sociedade midiática e comunicacional está colocando imensos problemas às pessoas. Transparência é a nova palavra de ordem, e nada tenho contra isso. Mas quem tem o poder, sobretudo o Estado e as empresas privadas, sabe bem que o "segredo é a alma do negócio"; eu diria que é a fonte do poder. Vai daí, defendem a ferro e fogo seus segredos: segredo de Estado, sigilo bancário, segredo judicial, segredo médico, nunca vimos tanta defesa de segredos institucionais, quando o espaço público e institucional deveria ser o mais transparente. Quanto ao segredo das pessoas, em particular de sua mais íntima privacidade, nunca vimos tantas violações e tão pouca defesa contra elas. [...]"

"Se o leitor não sabe defender seus segredos e quer um conselho secreto, ele está aí: não vá nessa onda de 'transparência'. [...] Se o leitor, por exemplo, entregar seus segredos s outras pessoas e não receber os dela em troca, fica nas mãos dela. [...] Mas, na relação entre adultos, espero que isso não aconteça: os segredos devem ser compartilhados para o poder ficar equilibrado. [...]"

Na verdade, coloquei esse último parágrafo mais pra destacar a relação entre "segredo" e "poder". Quem entendeu, entendeu e sabe que dá-se voltas e voltas e chega-se novamente na filosofia oculta.

Enfim, leiam o livro, que eu não citei o final e a conclusão. Vale muito a pena e é uma leitura fácil e rápida, padrão best-seller que é, com merecimento.

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