Não pergunte onde está a guerra, ela está em você!

sábado, setembro 12, 2009

Como tornar-se um doente mental


ABREU, J. L. Pio. Como tornar-se doente mental. São Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2008.



Vale a pena desprezar o nome da editora. ("Quem tem de alardear aos 4 ventos que é alguma coisa, provavelmente não é")



Mesmo assim, esse livro vale a pena o risco.



Li-o tentando evitar a atual mania de sublinhar tudo, sem a bengala de ler com um lápis ou caneta.



Um erro.



Leia leia o livro. Vale a pena pra verificar a distancia entre o DSM-IV e os testes da revista Capricho e o quanto seu psiquiatra realmente sabe, ou não.

Abaixo, links que levam a artigos com teor similar ou igual ao do livro:

3 - "Como tornar-se obsessivo-compulsivo" (aquele do TOC)
4 - "Como tornar-se histriônico" (aquela da histeria)

http://www.saude-mental.net/pdf/vol2_rev6_controversias.pdf

5 - "Como tornar-se maníaco-depressivo" (""""Mr. Jones"""")

http://www.saude-mental.net/pdf/vol3_rev1_controversias.pdf

Ainda, abaixo, os trechos que eu sublinhei (depois que eu consegui um lápis):

Sobre "Psicopatas":

"O certo é que nunca pensou em si como pessoa, nem sabe bem se existe ou não. Quem nunca estabeleceu vínculos com outros, também não se reconhece como projeto futuro. Apenas o gozo imediato; o resto, vê-se depois. Voltou ao estado primitivo, e pode sempre argumentar que a vida é uma selva. Talvez sobreviva."

Sobre "Como tornar-se um maníaco-depressivo":

"A psicose maníaco-depressiva (que agora tem o estúpido nome de 'doença bipolar') não é só a doença dos gênios: é também a doença que confere a genialidade criativa. Mas desiluda-se o leitor. Para chegar lá, precisa pertencer a uma família tocada pelo fogo, na feliz expressão de Kay Jamison, ela também é portadora da doença."

Minha nota: daí vem espertomen que dizem que querem ser psicóticos (ou que são) e que aguentam o "tranco". O fato é que, pra cada Napoleão, são 800 maníacos-depressivos falidos e destroçados silenciosos. Pra cada Virgínia Woolf, são 500 drogadidos cujo cérebro virou mingau. Pra cada Hemingway, são mais 3oo (301, então) suicidas, quase todos com a "obra de arte" pela metade, inacabada, na cabeça ou queimada num acesso de raiva. Pra cada Edward Munch, são mais 1000 em tratamento pesado zumbizando, "completamente" "adaptados" (como diria RS).
Pra cada gênio, são 1 milhão de fodidos. Melhor jogar na Mega Sena.
Enfim, se você é um dos "tocados pelo fogo", sabe muito bem que "psicose maníaco-depressiva" é muito bem mais que "alternar estados de humor", muito mais que uma moleta pra justificar tolices ou gafes. Muito mais que ter "alguém" pra jogar a culpa de suas burrices e dormir em paz.
No meu modesto ver, a expressão não é "tocado pelo fogo", tá mais pra algo apavorante como "fire walks with me".
Besides, isso é só um saco onde se coloca um monte de coisas diferentes. O próprio autor do livro usa essa expressão.

Mais um trecho ótimo sobre como tornar-se maníaco-depressivo:

"O momento de deixar os medicamentos é com você. Mas, pelo que conheço dos interessados, a melhor hora é quando se aproximar a época de uma nova mania, talvez antes do outono. Provavelmente você já conhece os sinais de que ela está pra chegar: levanta-se bem cedo com a sensação de que vai vencer o mundo, adora a luz e as cores, sente-se com energia para dar e vender, retoma os velhos projetos, trabalha muito, não consegue parar."

Outro:

"De qualquer modo, as pesquisas sobre a doença tiveram a vantaem de demonstrar que aquilo que comanda nossos ciclos de energia e, portanto, as manias e depressões, são os astros (e sobretudo o astro rei), em relação com a sincronização do ritmo de produção de nossos hormônios. Nada que os antigos (e os astrólogos) não soubessem."

Nota minha: aí dá pra perceber o quanto você deve confiar nos "estudos", "especialistas", "cientistas". Enfim, o livro é ótimo e o conhecimento é estruturado pra nós do jeitinho que nós aprendemos a aprender, mas não dá pra esquecer nunca que.

Ótimo:

"Se você for sempre uma pessoa tristonha, circunspecta e pessimista (realista e lúcida, como dizem alguns),..."

Do Capítulo "Como não ser um doente mental":

"O grande problema do doente mental é fazer sempre a mesma coisa em todas as circuntâncias. É por isso que eles são muito parecidos e podem ser classificados. Pelo contrário, as pessoas saudáveis, por serem tão diferentes umas das outras e fazerem coisas diversas em diversos contextos, são inclassificáveis. Nós somos, em geral, tão diferentes porque, além da variedade genética que cultivamos com a exogamia, temos também a variedade cultural e linguística e, ainda, a consciência, pela qual nós podemos conhecer e modificar. [...] O que mais me alarma nos doentes mentais é a falta de consciência sobre o que se passa com eles (...), o que os leva a perder a liberdade de se modificar: continuam a fazer, em qualquer circunstância, cada vez mais do mesmo."

Talvez eu transcreva mais, mas acho que isso e Clockwork Orange já são de grande ajuda.

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